Jaime Isidoro

Hoje a chuva cai de lado,

E entra nos olhos como lágrimas.

Sísifo

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

Poema já antigo...

A minha janela dá para uns telhados
tristes de uma qualquer rua triste.
Mas sobre eles,
em estando o tempo agreste,
gaivotas vêm pairar,
desenhando onduladamente os teus cabelos em doces trajectórias marítimas.

Disse-to um dia: não sei viver numa cidade sem mar.

Vasco Graça Moura, in "Egoiste"

http://www.malhanga.com/musicafrancesa/becaud/lindifference.htm

Noites de insónia

Imaginar-te em verso e reverso,

Página de água voltada num lago opaco e denso.

Mas diáfano, doce.

Como uma fantasia.

Fidelidade

Não mais havia como fugir naquela noite.
Não mais como escapar por entre o fumo.
Não mais possível negar as evidências.

Fugiu, para não mais.

Sobre Norma...

Norma nasceu como uma fantasia.

Deixou de existir quanto se constatou a sua realidade.


Mas a Norma existe: mais do que um limite, é uma possibilidade, remota e inspiradora.

Transformou-se assim num lugar risonho, aberto - o das nossas fantasias.


Há agora apenas que preenchê-lo: com o sonho, a loucura consciente.

Sem censura...